sexta-feira, junho 17, 2005

O encontro/ a conversa

Eu tenho hepatite C, descobri no ano passado qdo fui doar sangue para o pai da Amrita.
E desde então eu faço acompanhamento para ver como o meu figado está reagindo.
Na verdade, eu tenho hepatite no sangue mas ela está quietinha,
não se manifesta e não me prejudica em nada, até o momento,
mas tenho q ficar acompanhando a situação.
Há algumas semanas atrás meu gastro pediu para eu fazer uma biópsia
para q ele pudesse ter certeza de algumas coisas,
e ela estava marcada desde então para o dia 16 de junho de 2005.
Deu o acaso q na véspera eu tive a conversa com meu pai. Coisas da vida.

Bom, ontem eu fui para o Namas, conversar com a Shanti,
e ela me sugeriu uma meditação chamada "no-mind",
onde eu poderia dar vazão a um pouco da carga no gibberish,
mas sem pirar demais, sem soltar a maior pressão,
porq ela achava q eu precisava daquela carga para encontrar com ele.

Depois da meditação, eu me sentia exatamente assim:
dei uma aliviada mas não descarreguei,
só deu uma acalmada prá não pirar até as 21h.
fiquei no Namas até quase 20h, fui prá casa e esperei.
Meu pai chegou antes das 21h (uns 10 min antes).

Eu disse prá ele q tinha tido um dia ruim.
Q a perspectiva de encontrá-lo não me deixava tranquila,
q nossa relação nunca tinha sido legal e
por isso eu tava meio tensa.
Ele admitiu q tinha sido um dia dificil prá ele,
tinha ficado meio nervoso,
perguntou se eu achava q devíamos conversar,
podíamos adiar mais um pouco.
Eu só disse q 'nem pensar',
já tínhamos protelado por tempo demais a conversa.

O Vini tava em casa, no quarto.
Nós combinamos q se eu me sentisse insegura ou qualquer coisa,
ele tava no quarto e era só eu chamar.

No início eu entrei na coisa da raiva com ele, como sempre.
Depois o Vini disse q o meu tom de voz não deixava dúvidas
q eu tinha entrado no lance da raiva quase q no primeiro momento.
Fácil fazer isso, qdo é com ele.

Comecei a falar de como eu senti ele, a presença dele,
ou a falta da presença na minha infância, a ausência, a irresponsabilidade.
Eu nem lembrava, mas ele disse q eu já tinha esse discurso,
desde pequena, q ele sabia q eu tinha essas cobranças.
Me disse algo sobre ser uma pessoa q tinha muita fome de viver,
e acabar não vendo se com isso ele estava passando por cima das outras pessoas,
se ele tava machucando alguém.
Q a pessoa q é como ele acaba não pensando nos outros, mas q não é por mal.

E daí me veio a sensação q, ou entrava de sola no assunto principal, ou eu não ia conseguir.

E daí eu perguntei se, nessa fome de viver dele, estava incluído no pacote tentar abusar de mim?
Num primeiro instante ele fez q não ouviu e eu repeti a pergunta.
E qdo eu repeti a pergunta eu já senti a dor, e comecei a chorar.
Ele me disse q sabia q eu ia falar disso, q ele tinha vergonha,
q era um assunto dificil de falar prá ele.
Q jamais em momento algum ele pensou q isso tivesse me machucado tanto,
mas ao mesmo tempo, ele tb tinha noção,
q eu rompi relações com ele por causa disso.
E ele não queria q eu chorasse, dizia prá eu me acalmar.

Eu disse q não conseguia falar do assunto sem chorar,
perguntei se ele algum dia fez noção do qto tinha me machucado.
Do fato de q, ele era ausente, irresponsável,
nunca tinha tido um comportamento amoroso comigo,
a não ser q estivesse embriagado
(o q obviamente prá mim, nunca tinha contado muito como demonstração de afeto)
e q qdo ele começou a reparar em mim,
foi no início da minha adolescência
e porq ele queria me comer.

Perguntei se ele fazia noção do nojo q eu sentia,
do medo q me dava, cada vez q ele começava com aquele jogo nojento,
de "fica aqui com o pai, senta no colo do teu pai, me abraça,
me beija, deixa eu te abraçar".
Ele nunca tinha me abraçado muito, até aquela época,
e de repente, ficou com uma vontade de ser amoroso,
carinhoso, desde q pudesse passar a mão nos meus seios e tudo mais.
E q única coisa que eu sabia era q precisava escapar, porq senão eu ia me fuder.
Falei da força física, da tensão muscular, q eu fazia prá escapar,
e do medo de contar prá alguém e as pessoas acharem q eu tinha feito algo de errado.
Q eu tinha certeza q eu tinha feito algo errado e por isso tinha vergonha de falar qualquer coisa. Da confusão q isso foi criando, da sensação de
frustração, do ódio q eu comecei a alimentar,
da revolta pois na frente da mãe,
ele sempre implicava com tudo q eu dizia, fazia ou falava,
mas qdo ela não tava junto entrava naquele jogo de sedução nojento.

Falei q isso veio com força no meu casamento,
q várias vezes qdo o Jerry me tocava eu entrava na viagem da historia com ele
e rejeitava o Jerry, ficava enojada, com raiva, em pânico.

Da sensação de não ter com quem contar prá me ajudar.

Eu chorava, as vezes chingava, ele pedia prá eu me acalmar, não chorar.
Dizia q tinha vergonha, q quase desistiu de vir porq tinha muita vergonha de tocar no assunto,
q ele tinha saído do normal dele, nunca tinha sido tão escroto com ninguem, e várias coisas.
Mas q ele sabia q não podia ficar sem ouvir essa historia de mim, sem saber o q eu tinha sentido.
Nunca tinha imaginado o qto podia ser doloroso.
Não imaginava q eu lembrava de tudo com tanta força.

Eu falei da raiva q eu fiquei dele e da mãe,
qdo a história veio a tona,
mas ninguém tocou no assunto.
Mudaram-se as regras da casa,
eu não podia mais ficar com ele sozinha na casa, mas ...
ele podia me visitar e eu não podia discutir, reclamar, questionar.
Qdo isso aconteceu: eu tive certeza q eu tinha feito algo muuuuuito errado,
porq eu me sentia punida pelo q tinha sido descoberto.
Q eu precisava desesperadamente q alguém conversasse comigo,
dissesse q eu não tinha feito nada errado,
mas q o silêncio se instalou e eu comecei a pensar q eu era louca,
q eu tinha inventado tudo aquilo,
q não era possível q os dois soubessem de tudo e convivessem naturalmente,
e q a única pessoa q tinha raiva e revolta era eu, e ainda era questionada por isso.

Falei q teve uma hora q eu desisti, não tentei mais ser ouvida.
Tinha ódio, queria q ele morresse,
tava com raiva da mãe, mas desisti,
se eu continuasse me debatendo eles iam me enlouquecer de qualquer maneira.

Q aos 18 anos, eu tinha enchido meu saco,
tinham sido 7 anos convivendo com a farsa,
recebendo as visitas dele, sem a minima vontade de vê-lo.
Todo mundo: primos, tios, me questionando porq eu nunca
olhava prá cara do meu pai, nunca falava com ele,
e q eu só dizia q eu não gostava dele, não queria ele por perto, mas ... aguentava.
E q daí, eu cansei.

Passei a ficar fechada no meu quarto, estudar,
ficar mais e mais arredia com ele e com a minha mãe.
Já não chamava ele de pai há vários anos.
Prá mim, eu nunca tinha tido um pai, não tinha motivo prá chamá-lo assim.

Q qdo ele desistiu de ir em casa me visitar,
prá mim foi um alívio.
Q eu tinha tentado fazer o mesmo q eles:
deixar de tocar no assunto,
fingir q não tinha acontecido e
fazer o q eu pudesse fazer por mim, sem ajuda.
Mas q prá mim isso significava nunca mais olhar prá cara dele.
E q eu esqueci do rosto dele, da voz dele.
Só não esqueci q eu tinha muito ódio e ressentimento.
E nada se resolveu fingindo q não aconteceu, ficou até pior.
Falei q eu entrei na igreja prá ser diferente dele.
Do medo de ter filhos e acabar fazendo a mesma coisa q ele.
Falei de todas as pirações q a historia já me trouxe.
E ele ficou duro, sem conseguir reagir, nem ao menos chorar.
Tentou várias vezes se defender, e eu só dizia q ele tinha de me ouvir até o fim.
Eu via q doía mas ele se segurou. Mas ficou bagunçado.
De repente, acabou.
Eu não queria mais falar, tava vazia, aliviada.

Daí eu ouvi todas as argumentações dele
(tinha esquecido o qto ele era argumentador),
ele pediu perdão, disse q não sabia o q dizer, o q fazer.
Q sempre soube q eu deixei de falar com ele por causa do ressentimento nessa historia,
mas tinha medo de me ouvir, tinha vergonha.
Ele não imaginava q doesse tanto e ao mesmo tempo ele imaginava tb.
Disse q entendia, q não era só o fato da historia q me doía.
O q me doía mais, e só agora ele conseguia enxergar,
era q ele nunca tinha me amado como um pai qdo eu era criança
e precisava muito disso, e q ao crescer
ele me deixou claro q não tinha o amor de pai prá me dar.

Ele disse "tu só queria q eu te amasse como filha e eu nunca te dei isso!!"
Nessa hora eu chorei muito ouvindo ele.
Parece q ele tinha me entendido.
Ele tb disse q eu não precisava me sentir culpada.
Q eu não tinha feito nada de errado,
e q a ilusão q eu alimentei de q todo mundo tinha passado
por cima da historia e tinha resolvido não era real.
Ninguem tava com nada resolvido.
A sombra teve ali o tempo todo.
Mas q ele queria q eu sentisse q eu não tive culpa.
Tb chorei muito ouvindo isso.
Eu precisava ter compaixão por mim no meio desse tumulto.

Sei q a conversa foi até umas 23h.

Ele me perguntou se a gente ia continuar se falando,
ou se eu só precisava desabafar e depois a gente nunca mais ia se ver.
Eu disse q não tinha preocupação, q eu sabia q a gente podia conversar mais,
outras vezes, q ele pode me ligar, q eu vou ligar prá ele, q eu quero conhecer meus irmãos,
mas q antes de nós conversarmos, eu não ia conseguir fazer nada disso. Q naquele momento, eu tava me sentindo muito cansada, mas q outras vezes a gente vai se falar.
Saiu um peso enorme de dentro de mim.

Não bateu um grande amor pela pessoa, mas uma sensação de limpeza,
e de q o q ele podia entender, já tinha sido dito, eu tinha esvaziado.
Pedi para ele ir embora por causa do meu cansaço físico, mas eu me senti bem.

Só tive q dormir com o Vini, porq não tava a fim de ficar sozinha,
delicada do jeito q eu tava me sentindo.
Ontem, depois da biópsia eu tava me sentindo bem.

O cansaço me bateu forte hoje.
Não conseguia sair da cama.
Dormi quase o dia todo.
Parece que todo o meu corpo pediu folga.
Já foi, já passou toda a adrenalina, agora eu preciso descansar.

Mas agora de tarde já estou bem melhor.

foram muitas emoções em um curto espaço de tempo.

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