quinta-feira, agosto 07, 2008

Mais uma etapa

Retomei o tratamento para fibromialgia.
E amanhã terei de entregar um questionário que fizeram para os pacientes que estão em tratamento. Acredito que o objetivo seja ter uma melhor compreensão dos casos e oferecer um tratamento melhor. Isso é o que eu acredito, racionalmente, mas preciso compartilhar ... nada mais vergonhoso do que responder aquele questionário.
Nada mais doloroso, do que escrever, por mais objetivo que se tente ser, sobre alguma coisa que te deixa abalada, que já te afetou a auto-estima e a aceitação de si mesma.

Algumas perguntas fizeram meus olhos encher d’água, e eu pude perceber o quanto ainda tenho vergonha da fibro e de tantas outras coisas que me afetam.

Perguntas do tipo, verdadeiro ou falso, e a pergunta estava escrita assim: “O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?”
1) Eu costumo adoecer um pouco mais facilmente do que as outras pessoas
2) Eu sou tão saudável quanto qualquer pessoa que eu conheço
3) Eu acho que a minha saúde vai piorar
4) Minha saúde é excelente.
As respostas alternavam-se entre: a) definitivamente verdadeiro b) a maioria das vezes verdadeiro c) não sei d) a maioria das vezes falsa e) definitivamente falsa
Precisei escolher entre estas possibilidades de respostas para cada uma das afirmações acima.

Não sei se algum de vocês já respondeu esse tipo de perguntas, mas fazem idéia do quanto é embaraçoso, dizer que na maioria das vezes é verdadeiro que eu costumo adoecer mais do que as outras pessoas? Ou dizer que na maioria das vezes é falso dizer que eu sou tão saudável quanto qualquer pessoa que eu conheço? Eu tenho amigos que não adoecem, que no máximo pegam gripes no inverno, ou uma dor nas costas quando exageram nos exercícios físicos ou mesmo no trabalho no computador. Não gosto menos dos meus amigos por isso, mas confesso que os invejo demais. Não pensem que eu lhes desejo mal de algum tipo, mas adoraria poder ser como eles.

Eu tenho fibromialgia, miopia, astigmatismo, problema ortóptico (músculo do olho preguiçoso), tenho refluxo gastro esofágico, rinite, sinusite, asma, hepatite c, alergia a várias coisas, varicoses, tendência a depressão, mordida errada. Parece que eu construí ao meu redor, uma parede de doenças que me transformam em alguém diferente.

E, às vezes, nos momentos em que a auto-estima cai alucinadamente, eu penso que eu só vou piorar, que eu tenho 37 anos, e percebo que estou mais sensível ao frio do que era há cinco anos atrás, e me pego pensando “minha saúde só vai ficar pior, mesmo que eu me cuide ao máximo”, ou “se eu não me cuidar, vai ser horrível, pois me cuidando já estou uma droga”.
Não quero ser negativa, não quero influenciar meu cérebro para o pior, porém, em alguns momentos é difícil evitar.
E o mais complicado é ter vergonha de dizer estes meus delírios para as pessoas.
Até por que, sei que são delírios de momentos de fraqueza.
Sei, até por que tenho pesquisado, me informado e, principalmente, me cuidado o suficiente para saber que eu posso ter uma qualidade de vida melhor. Mas é uma vergonha que me lembra a minha vergonha de me olhar no espelho de quando eu era criança e o cachorro me mordeu e eu me sentia um monstro de tão horrorosa. A mesma sensação, tão familiar.
É uma luta entre o meu racional, que já venceu a doença, que esclareceu várias dúvidas e inseguranças, e o meu emocional que nem sempre está tão elevado. Qualquer abalo, qualquer desequilíbrio e tudo vem a tona. Um simples questionário pode ser o cutucão em uma ferida que eu acreditava fechada ou pelo menos quase curada.

Lembro de quantas vezes me senti humilhada quando quase passei por verdadeiras sabatinas no Namastê do por que eu tinha adoecido, de novo. Minha terapeuta, outros terapeutas, colegas de formação me olhando como se eu tivesse feito algo errado, de novo. Ou talvez nem fosse tão pesado assim, mas sempre me pareceu muito e muito humilhante (sei, racionalmente, que às vezes eu exagero na descrição das minhas sensações, mas também sei que era exatamente esta a visão que eu tinha da situação, ou pelo menos a sensação). Sempre doeu e me fez sentir uma das pessoas mais erradas daquela comunidade terapêutica. Me dava vergonha demais.

Eu agora estou com um gatilho na mão direita.
Quando eu fecho a minha mão, por qualquer motivo, para segurar o mouse, por exemplo, ela começa a se fechar e eu preciso da ajuda da outra mão para abrir.
É uma pressão. Não é uma dor horrível, mas é uma pressão nos músculos da mão, bem desconfortável, e em outras vezes, a mão dói como se os músculos estivesses presos. Nada insuportável, mas muito desconfortável e preocupante.

E, então, eu lembro dos exercícios de bioenergética, e da dificuldade em manter as mãos abertas. Das várias e várias vezes, que a Shanti abriu minhas mãos enquanto eu respirava, e o quanto isso me fazia chorar. E da satisfação que eu senti no dia em que eu consegui fazer um renascimento, e senti que os meus punhos não se fecharam e que eu respirei intensamente. Que sensação de vitória!!!!!
Impossível não relacionar os fatos.
Ao mesmo tempo, não sei qual a relação destes fatos.
Mas eu relacionei.
Talvez mais tarde, em algum momento, eu saiba.

Bom, vamos lá.
Mais uma etapa.
Mais um tratamento.
E como diz a fisioterapeuta, a idéia toda é me tornar independente.
Aprender a lidar com a doença de forma a não depender sempre da fisioterapia, da fisioterapeuta, de um terapeuta de bio, mas aprender a ser autônoma.
Aprender a vencer a vergonha, o medo de ser quem eu sou e de mostrar como eu funciono.

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