segunda-feira, abril 20, 2009

I dreamed a dream

Que esta conversa fique somente entre nós dois.
Como se ninguém, de forma alguma, pudesse compreender do que estou falando.
Como se somente tu, pudesse compreeender a direção das minhas palavras.
Talvez alguém mais compreenda, talvez não ...

Eu vi teu rosto numa velha fotografia.
Como há pouco tempo vi o meu rosto numa velha fotografia enviada por uma amiga.
Confesso que me assustei mais com a tua imagem do que com a minha.

Mas preciso te dizer algumas coisas.
Não com respeito a tua aparência, mas como eu me sentia, e como eu sinto ainda hoje.

Quando nós éramos "nós", eu te achava o rapaz mais lindo e mais inteligente
que eu tinha a oportunidade de namorar.
Te achava perfeito.
Assustador de tão perfeito.
E o que mais me assustava era ter sensações perfeitamente normais,
como atração, por exemplo.
Eu sentia muita atração por ti.
O que era natural. Eu tinha 18 anos: hormônios na flor da idade.
Tu era uma rapaz lindo, com uma expressão amorosa.
Tu também tinha atração, e isso me assustava por demais.
Quantas vezes desejei que ficássemos longe um do outro,
de tanto medo que eu tinha do que sentia.
Mas, ao mesmo tempo, te enxergava sob a ótica da menina encantada
pelo príncipe encantado: te achava perfeito.
Eu enxergava em ti, caráter, capacidade de ser fiel, romantismo, capacidade de amar,
de se esforçar para me enxergar e me oferecer aquilo que me fizesse feliz.

Hoje, pensando bem, acho que fui por demais injusta contigo.
Te tranformei numa entidade alada, incapaz de erros, e de inseguranças.
Um homem perfeito por quem eu podia me esforçar para esperar mesmo que ficasse só.
Um erro!
Devia ter compreendido isso.
Qualquer deslize teu, por mais sutil que fosse, jogaria por água abaixo
o púlpito que eu havia construído prá ti.
E então, ocorreu o deslize ... tu me deixaste só.
Não por estar distante fisicamente,
mas possivelmente por já não se sentir vinculado a uma pessoa com quem não tinhas
mais nenhum contato a não ser por cartas.
Possivelmente, o amor havia acabado.
Éramos jovens, e tínhamos todo o direito de mudar de idéia.
Mas eu não conseguia compreender isto.
Me senti traída, abandonada e deixada de lado.
E passei a perceber cada deslize.
E quando retornaste, eu ainda sentia afeto, mas ... estava impregnado de dor e ressentimento.
E eu via cada palavra meio torta, como uma demostração tua do quanto eras um safado.

Eu enxerguei a tua carência de afeto, como mais uma prova do quanto éras imprestável.
Do quanto eu era tonta em ainda alimentar algum tipo de expectativa sobre nós.
Mas não era por ter uma visão realista, mas por me sentir traída.
Levei muito, muito, mas muuuuuuuuuuito tempo para poder te perdoar.
Na verdade, só consegui mudar meus sentimentos quando fui namorar o Bencke.
Eu o amei muito, e nesse momento tu deixaste de ser "o centro".
Mas ele era um homem fraco, cheio de medos, e eu escapei disso assim que consegui enxerga-lo.
Neste momento, eu ainda não havia te perdoado.
Apenas te tolerava.
Mas ainda sentia muita dor.
O real perdão veio quando eu sonhei com a tua dor.
E, na verdade, desde o início era disso que eu queria falar.
Há muito tempo eu quero falar disso.
De um sonho.

Um sonho estranho que eu tive, quando ainda estava casada.

Quando eu já havia começado a terapia, mas ainda me esforçava por me concentrar no meu casamento e na minha vidinha infeliz de mulher casada dentro da IJCSUD.

Eu sonhei contigo, e tu estavas muito, mas muito triste,
e por alguma razão além da minha compreensão,
no meu sonho tu me procuravas para poder compartilhar a tua dor.

Lembro que no sonho eu tinha um estranhamento com a situação.

Mas lembro que enquanto conversavas comigo, eu sentia uma compaixão absoluta por ti.

Em nenhum momento do meu sonho, eu cheguei a saber - racionalmente - o que te causava tanta dor, mas lembro do sentimento de compreensão de que a tua dor, era em muito, muito mesmo, superior a qualquer emoção que eu pudesse ter sentido.

Senti a minha incapacidade de poder oferecer qualquer palavra que pudesse te dar um consolo.
Não havia palavras que pudessem ser ditas, que pudessem te aliviar.
Não havia abraço ou beijo, por mais cheio de afeto que fosse, que pudesse te acalmar.
Eu sabia que não.
Ninguém conseguia te consolar naquele momento.
Isso era nítido.
Apesar disso, eu te ouvia, e sabia que era o melhor que eu podia fazer: estar ali, te ouvindo.
Lembro até hoje da sensação.
Da sensação de inutilidade, de dor, de incapacidade, e de amor por ti, com a qual eu acordei.
Eu sonhei a noite inteira com isso.
E eu não imaginava "o que?" podia te causar tanta dor.
Alguns meses depois ... eu soube ...
Tu havias experimentado a maior dor que um homem pode sentir.
Tu havias perdido um filho.
E, por alguma razão, totalmente inexplicável prá mim:
eu sintonizei contigo e com a tua dor.
Eu tentei estar presente.
Não faço idéia de como isso aconteceu.
Mas sempre quis te contar, e nunca, jamais tive coragem.
Quando alguns meses depois eu soube da tua perda, eu realmente compreendi.
O quanto eu precisava te perdoar, e me perdoar por ter errado e exigido demais do amor.
Por que eu entendi que a tua dor, merecia que eu pudesse te dar amor.
Daquele momento em diante, eu fiz todo o esforço para te ver como um grande amor.
Um amor de ciclo encerrado, mas ainda assim um grande amor.
E, não foi difícil, por que aquele sonho me devolveu o respeito e carinho por ti,
que me acompanham até hoje.

Eu gostaria de me sentir no direito de chegar perto e te dizer isso.
Mas, na verdade, isso eu ainda não sinto.
Existem energias que me dizem que o melhor
que eu posso fazer por nós dois é ficar no meu canto.

Se algum dia precisares de mim, de novo, eu vou saber.

Porém, eu precisava de alguma forma deixar essa história registrada.
Eu queria ter falado sobre ela no início deste ano.
Martelou na minha cabeça várias vezes.
Mas, as oportunidades passaram e eu não contei.
E nem estou contando agora.
Não prá ti.
Várias pessoas já ouviram sobre este sonho, e elas nem te conhecem.
Achei injusto que tu não soubesses algo, que de alguma forma parece ter acontecido entre nós.
Algo que me fez compreender o quanto somos amigos.
Se algum dia, eu conseguir te contar, vai me deixar uma sensação bem melhor.
Mas por hora, no meio de tantas mudanças, isso é o melhor que posso fazer.

sábado, abril 04, 2009

Reza a Lenda ...

Reza a lenda ... em família, que eu nasci com um “gene” de bibliotecária.
Diz minha mãe que sempre se fazia uma brincadeira com as crianças da nossa família, para compreender quais as coisas que futuramente interessariam a criança, realmente.
Então, colocava-se a criança no chão, cercada de diversos objetos e ficavam observando qual, dos diversos objetos, realmente atrairia a criança por mais tempo. Minha mãe contava que a minha avó fez este teste com os 4 filhos, e, no ponto de vista dela, esse interesse inicial se concretizou na vida adulta dos filhos dela.
Bom ... minha mãe fez o mesmo “teste” comigo.
Eu amei uma revistinha em quadrinhos, depois de ter mexido em todos os outros objetos.
Então, quando eu me tornei Bibliotecária, minha mãe me contou essa história.
Para ela, o meu interesse inicial estava se materializando de alguma forma.
Bem que eu poderia ter me tornada design gráfica ou desenhista de história em quadrinhos
(que eu adoro por sinal) mas eu virei bibliotecária.
Mas eu não sou bibliófila.
Sou apenas bibliotecária.
E gosto muito do que faço.
Pena, é que nem sempre gosto dos outros bibliotecários.
Às vezes, eu tenho vergonha de ser bibliotecária.
Talvez, em todas as profissões as pessoas tenham estas fases de questionamentos.
Eu tenho frequentemente.
Prá ser honesta, desde a faculdade.
E quando eu comecei a trabalhar, isso tornou-se quase crítico.
Não pense que não admiro bibliotecários.
Muito pelo contrário.
Admiro vários, e posso citá-los: Flávio Nunes, de uma cultura geral (e de abobrinhas também) e conhecimento de catalogação absolutamente impressionantes; o Vladimir Luciano, classificador de CDU fantástico, também com uma cultura acima da média (mais tímido e reservado que o Flávio, se é que isso é possível), o Roberto Moura, conhecedor de Aleph (sistema de gerenciamento de bibliotecas) sem competidores.
A Lourdes Ulian, minha chefe enquanto eu estava na biblioteca da OAB, ser humano incrível e profissional dedicadíssima. E acima de todas: Tânia, Miriam e a Graça, minhas primeiras chefes bibliotecárias, e que me deram os maiores exemplos de dedicação ao trabalho, às necessidades dos usuários, e – sempre - com o maior respeito pelos seres humanos que trabalhavam com elas. E de uma firmeza e gentileza ao mesmo tempo, que eu sempre admirei.
Estas três influenciaram, e muito, a minha postura como profissional.
Nem imagino se elas fazem noção disso, mas é a realidade.
Assim como a Lourdes que tem o maior amor pelo que faz, sem deixar de ser uma pessoa com vida particular completamente a parte da biblioteconomia ( o que eu acho imprescindível em qualquer profissão).
Nesse quesito eu tive muita sorte.
Mas ao atuar ... confesso que meus questionamentos da época de estudante apenas aumentam. O que faz uma pessoa ser bibliotecária, quando um grande número de bibliotecários - que eu acabei por conhecer - apenas confirmam estereótipos das eras medievais.
Pessoas que não lidam com pessoas, que gostam de papéis e objetos, apegados ao lugar da caneta em cima da mesa, chamando a mesa e os equipamentos de seu local de trabalho, de “minha mesa”. Pessoas que se apegam a mesquinharias, e deixam o trabalho de lado para se comportar como lavadeiras de beira de rio, se ocupando mais da vida alheia do que de suas responsabilidades. Pessoas chorosas e muitas vezes mal educadas.

E não me venha falar que isso se deve a ser uma profissão de solteironas (outro estereótipo). Gente mal amada também consegue casar. E odeia a vida que leva, mas descarrega esse ressentimento ao seu redor, principalmente entre os auxiliares.
Esquecem que, por de estarem dentro de uma biblioteca, estão atuando na área de gestão de pessoas. Na verdade, nem se interessam em aprender a gerir pessoas.
Usam a biblioteca e sua equipe para uma sessão de descarregar neuras, enquanto deveriam freqüentar um psiquiatra. E não melhoram, e morrem de inveja de quem melhora.
Eu gosto de pesquisar, atender, falar com usuários, aprender coisas novas com meus usuários. Claro que me canso, me sinto exigida, mas eu gosto.
Mas em várias oportunidades, eu fico pensando ... que eu precisava estar em outro ambiente.
Me apego em acreditar que todas as profissões tem suas ovelhas negras, mas ... e quando a gente só enxerga ovelhas negras, faz o que?

Quem sou eu

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Garibaldi, RS, Brazil
Sem palavras pra descrever