domingo, julho 06, 2008

Eu tenho dificuldade

Eu tenho dificuldade em confiar nas pessoas.
Parte da minha história de vida, das minhas referências e das minhas lembranças.
Mas, ao mesmo tempo, às vezes me tomo de amores por algumas pessoas.
Pessoas que eu amo apesar das diferenças ou defeitos.
Na verdade, acho que são os defeitos ou dificuldades delas, que mais me atraem.
É como se eu enxergasse algo que a minha razão não vê, mas meu coração se apaixona.
Assim fiz vários amigos.
Muitos, de quem me afastei, com o passar do tempo e muitos de quem não sei mais nada, e alguns com quem ainda mantenho contato, de alguma forma, sempre que posso, e mesmo quando nem posso. E outros, que nunca me impressionaram muito, foram ficando e não fazem falta.
Como o Vini foi amor a primeira vista, por um ser humano frágil e machucado como eu.
Amor por que eu vi a humanidade dele, e não fiquei enxergando-o como alguém acima, ou demais ou excessivo, como eu enxergava a maioria das pessoas. Não vi o fantástico mundo de Vinícius. Apenas vi o Vinícius, sem títulos, sem pompa, sem a segurança falsa de quem finge que sabe o que é e o que quer da vida.
Adoro ver isso nas pessoas.
Assim me permito amar e confiar nessas pessoas.
É o único jeito que as pessoas têm para me seduzir.
Sua imperfeição.
Não me sinto diminuída ao enxergar a dor dos outros e saber que isso faz parte da vida daquela pessoa também.

Mas esqueço que somente eu amo a imperfeição e me sinto segura quando enxergo a imperfeição alheia. Na verdade, sempre, esqueço disso.

Todas às vezes, na minha infância, em que expressei a minha opinião, eu fui castigada exemplarmente. E fui castigada através da indiferença, do descaso, da frieza. Não levei um tapa, não ouvi um grito, fui apenas julgada e condenada, sem direito a defesa, e senti muita e muita dor com isso. E até hoje, eu mesma quando sou muito machucada, prefiro a indiferença e o descaso da pessoa, do que qualquer outra atitude mais escandalosa ou dinâmica. Talvez, para outras pessoas, seja menos doloroso do que sempre foi prá mim, mas quando eu sigo este caminho, sei o quanto a pessoa me machucou.

E eu pensei que, como eu amo a humanidade do Vini e sempre lembro e aceito várias das dificuldades dele, que ele também sentia e agia assim.
Mas, agora descobri que não.
Algo dentro dele, escondia um ressentimento pela minha humanidade, pela minha imperfeição, ou mesmo pelas coisas dele, que mesmo que eu não condene abertamente, fica claro que eu não compreendo. E quando eu fui imperfeita, mais do que a média aceitável (nas medidas dele) tudo veio à tona.

Talvez o que eu mesma não esperasse, fosse a minha dor por isso.
E talvez eu não esperasse a repulsa e ressentimento que isso me causou.
Todos os dias eu tenho chorado por isso.
Todos os dias, as lágrimas que não saiam dos meus olhos há vários meses, e que me causavam tanta dor no peito e também uma irritação crescente, tem resvalado pelo meu rosto. Lágrimas de dor, de raiva, de decepção, ou de qualquer outro sentimento nada bom por uma pessoa que eu sempre julguei amar.
Mas como diz o Milan, no mesmo coração em que há o amor, existe a raiva, e agora é tudo que eu sinto. A raiva, a decepção e o desprezo.
Junto com toda essa raiva, veio uma crise de sinusite e asma fortíssima.
Mas diferente.
A secreção sai aos borbotões, como aconteceu nas duas maratonas que fiz e acabei sendo hospitalizada logo em seguida.
Mas eu não estou fraca e sucumbindo a força da excreção.
Pelo contrário, a secreção me irrita pelo assoar contante do nariz (que acaba por ser trabalhoso e constrangedor), mas não sinto tanta dor, não estou esgotada e desmanchando.
Parece que o ressentimento sai aos borbotões e vai me higienizando internamente.
De certa forma, isso me dá uma alegria:
Não implodi.
Explodi.
Mas ainda dói, mas de outra forma.
Eu não consigo olhar no rosto dele.
Não consigo ouvir a voz dele.
Não sei se, algum dia, vou conseguir isso de novo.
Talvez até passe, mas ... neste momento, parece impossível.
Tudo que eu quero, todos os dias, é encontrar algum lugar, bem longe dele, onde eu possa me sentir segura de novo.
E se isso exigir de mim, ficar sozinha, eu sigo.
Se não precisar ficar só, mas encontrar outra pessoa em quem eu possa confiar, eu arrisco.
Desde que eu fique longe.
Foi uma coisa tão pequena, mas me causou tanta transformação.
Eu, simplesmente, não sei o que mais aquela calma, falsa e mentirosa, esconde.
Até por que, ele usou o pior dos recursos para me magoar.
A frieza que tanto me machucou na minha infância.
E ele sabe o quanto isso me dói.
E se esqueceu, foi um amigo relapso e insensível, que ouviu mil vezes e não registrou nada dentro da mente e do coração (o que é bem possível, sendo ele como é).
E se não esqueceu ... é tão ruim quanto.
E em todas as outras vezes, eu achei que ele não fazia isso por mal.
Hoje, eu duvido muito disso.

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