sexta-feira, dezembro 15, 2006

O Meu sabotador interno

Não sei se já aconteceu com vcs ... mas comigo isso já se repetiu várias vezes. Fui ao banheiro, viver o meu "momento medidativo do dia" e saquei daquelas revistas velhas que ficam rolando pela casa, meio sem utilidade, mas ... que demoramos a descartar.
Então (como um bom paulistano falaria no meu lugar), encontrei esse textinho básico entre as páginas da revista.
E dei muita risada. Achei hilário.

Mas me fez pensar sobre a verdade do texto abaixo.

Também tenho um sabotador interno.
Que, frequentemente me diz para não sair de casa, mesmo quando tenho uma festa "ma-ra-vi-lho-sa" para ir. E me fala várias outras bobagens, nos momentos em que eu menos preciso disso.

Eu preciso me concentrar muito para não dar ouvidos, àquela vozinha estúpida que fica me dizendo, que não tenho competência para tanto; que sou burra mesmo; ou que não sou uma mulher interessante, bonita, inteligente; que não devo almejar mais prá minha vida; que devo me conformar com o que eu obtive até hoje; que não faço mais do que a minha obrigação.

Uma vez, lembro nitidamente, eu estava encerrando a relação com um cara que deixou bem claro prá mim que, ou eu me conformava com muito pouquinho naquele relacionamento, pois era o que ele tinha prá dar, ou a gente tinha de encerrar a história, pois ele era a fim, mas do jeito dele, e que eu precisava ser compreensiva.

Compreensiva o caralho!!!!

Eu já tinha tido muita paciência, tinha investido um monte na história, corrido atrás do cara, como jamais tinha me permitido fazer, e ele vinha com o papo de que eu tinha de me conformar com aquilo (que vcs talvez não saibam ... mas era pouquinho, pouquinho).
E me peguei ali, falando prá ele que não era a fim, mas ouvindo uma vozinha dentro da minha cabeça dizendo que "pouco era melhor do que nada"; "aceita";"se conforma".
Continuei dizendo o que eu queria, mas ... a voz ficou ali, dentro de mim, falando bobagens. Quase nem acreditei que aquilo estava acontecendo comigo.
Mas eu fui determinada, bati pé com o cara, ... e com a maldita voz.
Tinha um lampejos de descrença na minha vontade, e quase dei créditos prá tal 'voz'.

A história com o cara acabou ali, e eu me senti legal por ter atendido às minhas necessidades. E, principalmente, por ter vencido o meu sabotador interno.

Aquela vozinha estúpida ...

Não quero esquecer disso nunca mais.
Quero lembrar que eu posso dizer NÃO para essas bobagens que estão gravadas dentro de mim, e que vêm tentando derrubar meu crescimento.

Seja por medo, por defesa, por covardia, condicionamento, ou por qualquer motivo.

"Os barcos não foram feitos prá ficar nos portos (onde estão seguros)".

Vou buscar lembrar sempre disso.


Para o Pequeno Sabotador Interno


Venho por meio desta manifestar o meu repúdio pelo seu recente comportamento. Você estragou tudo, mais uma vez.

Quando me aprontava para sair, disse que eu estava feia. Quando experimentei outra roupa, insinuou que eu já não tinha idade para usar aquilo. Quando cheguei ao meu compromisso, não me deixou falar o que eu havia pensado. E, no final, ainda conseguiu me fazer ser grossa, apressando as despedidas.

Ora, quando você irá crescer? Cansei da sua irresponsabilidade. Compreenda, de uma vez por todas, que estamos no mesmo barco.
Se afundo, você vai junto - será que esta metáfora não está óbvia o suficiente?

Não me venha, portanto,com argumentos de homem-bomba. Se você discorda de mim tanto assim, por que não vai embora daqui de dentro? Abaixe esse punhal, apontado para as minhas costas, e cave com ele um túnel de fuga se for necessário. Não podemos é continuar desse jeito, nessa burra relação autodestrutiva, em que o conteúdo fura a própria embalagem.

Até quando você me elogia é com o intuito de me derrubar, já percebeu? Faz com que me acredite linda e sagaz para, no instante seguinte, rir dos meus tropeços. Dizendo "não falei?", com aquela sua cara de madrasta. Torpedeando minhas forças ainda durante os planos de ataque.
Minando meus passos ao pisá-los comigo.

Chega, então. Paremos com isso, antes que acabe em tragédia.
Antes que, na falta de um gesto meu, por você evitado, eu desabe em escombros. Quero, mais do que nunca, me arrepender depois do que digo e do que faço. Abro mão, com alegria, de todos os seus péssimos sábios conselhos. A vida é curta demais para tamanha precaução e longa demais para se repetir os mesmos erros.

Sim, cheguei a me divertir em sua companhia, quando ainda conseguia ver algum charme no insucesso. Tempos passados. Hoje, luto com unhas e dentes para que tudo dê certo. E das suas idéias, sempre cheias de lógico pessimismo, preciso distância.

Não pretendo, porém, uma separação litigiosa, pois sei que você conhece todos os meus pontos fracos e aguarda apenas uma boa oportunidade para atingi-los. Com suas observações de última hora, mortalmente precisas. Proponho, isto sim, um cessar-fogo: você deixa de me dar conselhos e eu imediatamente deixo de segui-los.
Parece-me uma trégua justa.

Não te desejo mal — entendo que você fez o que tinha de fazer, muitas vezes com a minha velada cumplicidade. Mas estou pronta a ir até o fim nessa luta, a tirar você de mim quanto antes. Saiba que, a partir de hoje, você está como imigrante ilegal aí dentro. E pode até conseguir fugir por um tempo, escondendo-se em subterfúgios. Seus dias de impunidade, entretanto, estão contados.

Se você não me atrapalhar, é claro.


(Fernanda Young)

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