terça-feira, maio 29, 2012

Depoimentos

Há uma semana atrás, a Xuxa deu um depoimento no Fantástico,
que mexeu com o Brasil inteiro.
Eu não quis ver.
Tinha certeza do assunto que ela ia falar, e eu não queria ouvir.
Sabia que eu não tinha condição de ouvir,
ver ou saber, daquilo que eu já sabia.
A gente sempre sabe do que pode mexer com a gente,
pelo menos, ... eu sempre sei.
No dia seguinte ouvi todos os comentários,
observações, críticas e piadas da internet e facebook.
Mas me omiti.
Não quis saber do depoimento.
Estava na casa da minha mãe no domingo passado.
O pior lugar para ouvir algo sobre o abuso de crianças é na casa da minha mãe.
Naquela casa, guardadas as proporções de mudanças arquitetônicas,
foi onde eu passei as minhas maiores tristezas e dores.
Foi quando eu descobri que um ser humano pode ser desprezível!
Foi quando eu descobri que uma mulher pode ser covarde e omissa!
Foi ali que eu comecei a acreditar que ninguém pode, realmente, me amar.
Eu fui deixada só para encarar aquilo tudo.

Neste domingo, o Fantástico repetiu um trecho do depoimento e eu consegui assistir.
Estou em casa, no meu canto, onde eu me sinto melhor.
Não é das atividades mais fáceis, mas aqui,
sob a responsabilidade do meu amor por mim mesma,
eu me sinto mais reconfortada.
É doloroso ouvir ou ver algo assim.
Mas reconheço os sentimentos.
A vergonha, a tristeza, o medo e a dor
que a criança sente numa situação dessas,
eu conheço bem.
Na verdade, a frase que a Xuxa falou me fez lembrar ...
“como eu sempre fui grandona”.
Eu também sempre fui grandona.

Tinha aproximadamente 1m50cm com 9 anos,
1m60cm com 10 anos, 1m68 com 11 anos.
Mas acredito que não seja esse
tipo de situação que nos torna um alvo.
Acredito que é apenas a loucura e falta de consciência
que faz isso se tornar algo plausível de se fazer.
Macular uma criança é loucura, doença, maldade pura!

Só que eu não sei se isso foi o mais doloroso.
Meu pai era um estranho, que nunca,
em momento algum antes, me tratou com amorosidade.
Na verdade, a aproximação dele foi esquisita,
justamente por isso.
Nunca houve da parte dele afeto por mim.
Quando aquela doença de me abraçar, me tocar,
e tentar estar sempre perto – de forma abusiva - começou,
foi extremamente esquisito justamente por sermos tão distantes um do outro.
Acho que foi só mais uma forma de decepção com ele.

Doloroso mesmo, foi a reação da minha mãe, quando ela finalmente teve certeza.
As únicas palavras que teve pra me dizer foram de acusações:
sobre a falta de confiança nela,
sobre o risco de expor essa chaga perante a família,
sobre o que as pessoas pensariam dela se algo me acontecesse
(como se nada houvesse acontecido).
E até hoje, o fato de tentar me forçar a
fingir que eu tenho uma relação normal e saudável com ele é extremamente penoso.

Ela só diminuiu esse processo de fingir
que o meu distanciamento do meu pai é sem razão,
no dia em que eu perguntei o motivo dela
me odiar tanto e insistentemente usar essa história pra me machucar.
(Na verdade, eu devolvi todo o processo de chantagem
que ela sempre usa comigo.
Me tornei tão chantagista quanto minha mãe.
É horrível admitir, mas eu também sei usar de armas pouco dignas)
A partir daí, ela parou.
Nunca mais tentou forçar nada.
Não toca no assunto.
Nem para tentar aliviar a lado do meu pai,
nem para me compreender.
O Luizão me disse que eu preciso deixar o meu passado.
Descarregar a carga.
Eu não consigo fazer isso.
Já consigo olhar pra tudo como passado
(se bem que ainda me dói lembrar)
mas não consigo fingir que não está aqui dentro.
Não acredito que eu tenha passado por tudo isso,
pra fingir que não existiu.
Ainda não sei o que fazer com essas experiências todas,
mas eu sei que não posso abandoná-las.
Deve haver algum motivo pra tudo isso.
Pra tanta dor.
Pra tanta decepção.
Para o fato de que eu sou capaz de enxergar a maldade humana,
e ainda assim, eu não me deixo dominar por essa maldade.
Eu poderia repassar essa decepção de forma desprezível para os que me cercam.
Mas eu sou uma pessoa melhor do que os meus pais foram comigo.
E sou muito melhor do que os diversos homens com quem já me relacionei.
Sou uma pessoa melhor do que muitas mulheres que eu conheço e convivo.
Sou mais forte, mais amorosa, mais determinada e honesta comigo e com os outros.
E mesmo que eu diga, que eu “deveria” mudar meu jeito de ser,
EU NÃO QUERO MUDAR!
Tenho uma grande alegria por ser
o tipo de pessoa que sou, mesmo que não seja fácil.
Como diria He-Man: “Eu tenho a Força!!!!”

Eu vou descobrir os motivos e razões pra tudo isso,
e de que forma, eu posso transformar "isso tudo" em benefício,
pra mim e pra outras pessoas como eu.

Mesmo que não seja fácil, mesmo que não me compreendam,
mesmo que as pessoas continuem tentando me mudar para alguém mais "digerível",
eu vou continuar sendo eu,
com toda a carga que ficou pegada comigo nessa vida,
mas sempre seguindo em frente.
Por que eu não estou mais no meu passado,
Mas não sofro de amnésia.

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